sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SALA DE AULA, um lugar para esquecer

Voltamos ao blogue.

E para um outro local também: é com muito pesar e horror que retorno a um recinto pavoroso que frequento ininterruptamente desde 1984 (quando estávamos no fim da ditadura e Diretas Já ainda não tinha aparecido na Globo): a sala de aula. Quem me conhece sabe que sala de aula para mim é o inferno na terra, e eu não consigo me livrar dela.

Pois bem, de uma forma menos piegas que na música de Toquinho e Mutinho, O Caderno é o único companheiro que esteve comigo todos esses anos enfrentando o martírio da sala de aula. E no caderno, no início de todos períodos letivos, minha primeira companheira sempre foi a última página.

Como meus tempos de sala de aula finalmente se encerram, inspirado por isso tudo escrevi uma bobagem no meu primeiro dia de aula de 2010 na última página do caderno. Aqui reproduzo.

a última página do caderno
abrigou meus sonhos
meus primeiros amores
meu tédio e minha fúria
meu desinteresse
a última página do caderno,
minha terapia,
afagou meus medos
consolou minhas taras
revelou-me
a última página do caderno
ano após ano
onde primeiro desaguei
minhas primeiras verdades
e minha impaciência
a última página do caderno
sempre escondi
de todos falei
o que quis
sempre
à última página do caderno:
me despeço agora
porque o tempo passou
e se ainda insisto
é por nostalgia
daqueles primeiros dias
de mim
do que eu seria
e só tu soubeste
rebuscaste minha técnica inútil
para que nesta última página
sem efeito
sem pesar
sem mágoa
e sem alegria
eu diga adeus
(de tudo ainda estou no começo)