terça-feira, 16 de junho de 2009

TAGUAPARQUE


06/06/2009

A sexta-feira anterior fora o aniversário de Taguatinga. Era uma manhã de junho ensolarada e muitas pessoas se aglomeravam numa tenda montada na sede do Taguaparque. O parque seria inaugurado em alguns minutos, com discursos do governador Arruda e do atual administrador de Taguatinga, Gilvan Galdino. Crianças alheias a tudo isso brincavam no playground recém montado.

É de se esperar que políticos façam das obras que inauguram um palanque eleitoral. O presidente Lula faz isso com as obras do PAC pelo Brasil e o governador Arruda não faria diferente no Distrito Federal. Na inauguração do Taguaparque, seu discurso enalteceu as obras que já fez e as outras que fará, afagou os moradores de Taguatinga, os pioneiros e os aliados políticos e tudo caminhou para no final afirmar:
- Tenho apenas uma preocupação, não tenho certeza se dará tempo de terminar todas as obras iniciadas até dezembro de 2010.

Com a deixa, todos os presentes entenderam o recado e começou um grito de “Arruda 2010”. O governador sorriu e encerrou ali seu discurso. Em todas as reportagens que saíram no dia seguinte sobre a inauguração do parque nos principais jornais do Distrito Federal, em nenhuma foi mencionado o lançamento da candidatura para reeleição feita pelo governador. E trata-se de candidatura polêmica, pois em 2006 foi firmado um acordo público entre Arruda e o vice-governador, Paulo Otávio, para que em 2010 as posições se invertessem; Paulo Otávio seria o candidato ao governo e Arruda a vice.


O administrador de Taguatinga, Gilvan Galdino, em seu discurso naquela manhã, afirmou a importância do parque para Taguatinga, e, principalmente, a importância de Taguatinga para o Distrito Federal, “Taguatinga é a capital econômica do DF”, afirmou com frase que se tornou clichê. Galdino ressaltou ainda a luta de duas décadas da população do DF para conseguir a obra. Como não é um político eleito, Galdino discursava para se apresentar, demonstrando que a administração de Taguatinga talvez seja o degrau que o leve para outras posições políticas mais privilegiadas no DF.


Pergunto a ele o que acha da proposta feita na câmara federal pelo deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que criaria a eleição direta para administradores das regiões administrativas do DF. Não sei se seus olhos brilharam pela pergunta que fiz ou pelo pensamento de poder ser eleito e fortalecer sua carreira política. Em reposta, disse que “todo projeto que vise incluir a população no processo democrático é bem-vindo. Esse é um desejo da população e espero que o projeto do deputado Rollemberg, que está de parabéns pela idéia, seja aprovado o quanto antes para participarmos ativamente da vida política do DF”.

Taguatinga é uma cidade com mais de 280 mil habitantes. Sua área de influência abrange Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas, Areal, Águas Claras, Vicente Pires, Riacho Fundo I e II, Águas Lindas, Santo Antônio do Descoberto, entre outras cidades. Taguatinga é percorrida por quase um milhão de pessoas que utilizam sua estrutura diariamente. Na disputa pelo poder no DF, é um dos centros mais importantes. Não é a toa que a sede do Centro Administrativo do GDF seja na cidade. Admira-se, no entanto, que os jornais de Brasília se omitam em relação ao jogo político estabelecido no Distrito Federal. Como crianças brincando no playground, a mídia do DF fica alheia à conversa dos adultos acontecendo nos palanques improvisados.

O PARQUE

A primeira etapa do parque foi inaugurada após 17 anos de reinvidicações por parte da população de Taguatinga. A obra foi construída pela Novacap com recursos do próprio órgão. A população de Taguatinga agradece, “se não fizessem essa obra logo, daqui a pouco alguém vinha e loteava toda essa área”, afirma Alzira, moradora de Taguatinga Norte. O parque possui uma pista de 2 km para corridas, outra de 700 metros para JipeCroos e mais uma de 1,3 km para MotoCross, além disso um playground, cinco quadras de vôlei de areia, cinco quadras de futebol society, três circuitos de malhação, ginásio coberto para 800 lugares, banheiros e estacionamento. Na próxima etapa será inaugurado um centro cultural, um anfiteatro e a ampliação dos espaços esportivos, com previsão de entrega em abril de 2010.



“É terrível que tenhamos que esperar tanto por um direito nosso. Foram quase 20 anos por uma obra feita em quatro meses. As árvores eram para estarem grandes e o parque integrado à cidade. Meus netos verão um parque bonito, mas agora está parecendo é com as ruas de barro do início de Taguatinga”, conta José Aparecido, morador pioneiro de Taguatinga.

Enquanto obras no Plano Piloto são amplamente discutidas pela mídia e comunidade, como o canteiro do Eixão, o obelisco de Niemeyer e o setor Noroeste, o restante das cidades do DF luta silenciosamente para conquistar seus espaços. Somando todas as cidades do DF e retirando o Plano Piloto, são mais de dois milhões de habitantes sem representação política efetiva e com espaço limitado na mídia.

Os políticos usam bem seus palanques, já os jornalistas do DF estão precisando ajustar os óculos.


FOTOS: Eliane Discacciati

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